sexta-feira, 22 de abril de 2011

RELAÇÕES ENTRE O HERDADO E O ADQUIRIDO NA APRENDIZAGEM
            Quanto do que aprendemos pode ser determinado por fatores biológicos herdados de nossos pais e quanto disso pode ser delegado a fatores culturais, sociais, as contingências da vida? Por muito tempo antropólogos, sociólogos, biólogos e historiadores se debateram neste paradigma, em uma discussão controvérsia rica em vieses, posições pessoais, defesa de ideologias. Vamos procurar elucidar um pouco os contextos biológicos do nosso comportamento.
            Pense na imagem de um bebê. Quais as primeiras sensações e pensamentos lhe vêm à cabeça? Geralmente, emoções de alegria, ternura, encantamento e uma necessidade incrível de proteção são eliciadas como resposta ao bebe em indivíduos de todas as idades e em todas as culturas. Será que estes comportamentos são aprendidos no processo cultural ou determinados pelo funcionamento de nossas estruturas nervosas e endócrinas?

Podemos pensar da seguinte forma: aqueles comportamentos que são fundamentais para a sobrevivência do indivíduo ou de sua prole serão determinados em primeira mão por fenômenos biológicos, pois o organismo não poderá esperar que o contexto sócio-cultural lhe proporcione o aprendizado pelo custo que isso acarretaria a sua vida; outros comportamentos que possibilitam respostas mais flexíveis e de menor relevância para a sobrevivência, ou que podem aguardar do indivíduo um aprendizado no seu convívio com outros apresentam menor determinação biológica.

            Cuidar dos filhotes constitui uma rede de comportamentos complexos, é de se esperar que alguns destes necessitem de aprendizado social, no entanto, algumas respostas devem estar pré-programadas nas redes neurais. Existe um gene denominado Fos β que é expresso no hipotálamo (área do cérebro que controla todas as glândulas do corpo e os comportamentos motivados como comer, beber, dormir, transar e cuidar dos filhotes), este gene quando inativo para a produção da proteína funcional Fos β em camundongos geneticamente modificados produz um comportamento de indiferença aos estímulos olfatórios, sonoros ou táteis advindos dos filhotes. Mães camundongos com duas cópias inativas do gene não respondem prontamente aos chamados sonoros dos seus filhotes quando estes estão fora do ninho, não apresentando a responsividade materna ao chamado dos filhotes e não recuperando os mesmos para o ninho (Brown et. al., 1996).
            A visão de filhotes e bebês invariavelmente causa sentimentos de ternura e encantamento em pessoas de praticamente todas as idades, basta você agora pensar em um gatinho ou cachorrinho brincando, ou na imagem de um bebe engatinhando ou sorrindo. Estes sentimentos baseiam-se em sistemas e processos inatos a partir de mecanismos desencadeadores como os movimentos bruscos e repetitivos tão graciosos dos infantes de todas as espécies de mamíferos. Outras características desencadeadoras são o tamanho maior da cabeça em relação ao tronco, o crânio com a fronte arredondada e saliente, olhos grandes situados abaixo da linha médio do crânio, extremidades curtas, rechonchudas e arredondadas, bochechas salientes e nariz pequeno. Este conjunto de características comuns a filhotes de todas as espécies, ao menos de mamíferos e aves, foram selecionados ao longo da evolução, em conjunto com áreas do cérebro para reconhecer estas características como eliciadores do cuidado e proteção aos filhotes, num mecanismo coevolutivo para garantir a sobrevivência dos genes dos organismos portadores destas características.

Referência Bibliográfica:
BROWN J., Ya H., BRONSON R., DIKKES P., GREENBERG M. A defect in nurturing in mice lacking the immediate early gene Fos β. Cell, 1996, 86: 1-20, 1996.

15 comentários:

  1. Prof. Rodrigo é inquestionável o conhecimento que tens, a qual muito se aprende, se o outro está disposto para tal. Não nego que o conhecimento partilhado nas aulas foram benéficas. Contudo, as aulas foram poucas, perante temas com tamanha complexidade - linguajar de pouco uso no dia a dia. Enfim, muito gratificante descobrir o teu blog, bem como os textos que li no recanto das letras.

    Fica na paz!

    Priscila Cáliga

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  2. amamos a materia....

    parabéns pelo blog

    JACKIANI CASAGRANDE

    JANICE MARTIGNAGO

    pos içara

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  3. Dr. Rodrigo muito amplo este material, pois nos faz refletir o quanto e importante cuidar dos mais jovens.
    Sandro Motta
    pós Içara

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  4. Olá Rodrigo muito interessante seu blog e sua aula também é uma pena que iremos ter apenas duas aulas!!!
    Vanessa Possamai Carara
    Pós içara

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  5. Ótimo texto, professor Rodrigo. Um conteúdo que nos faz refletir sobre nossa condição de aprendizes.

    Abraço

    Gabriela Niero

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    1. interessantíssimo saber que carregamos uma pre disposição natural para cuidarmos de nossos filhotes, prova de que a natureza sabe o que faz para o seu próprio bem.

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  6. Olá professor estive lendo seus textos e o que mais me chamou a atenção foi este pois nos remete a refletir sobre nosso papel enquanto pais, educadores e principalmente enquanto seres que sobrevivem em meio a uma carga de responsabilidades e atribulações principalmente quando temos filhos e sua criação.

    Lidiane, acadêmica Pós Içara

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  7. Oi Rodrigo,
    interessante saber que já possuímos um "dom" para conviver e cuidar de crianças. Eu tenho pouco contato com estes e não tive irmãos, e desde muito cedo tive o pensamento de como é difícil criar um filho e mantive a ideia de não ser mãe e continuo com este pensamento, devido as dificuldades e a dedicação total que temos que ter a eles, então, opto por não tê-los, sendo que isto vem sendo alimentado a cada dia que passa, tendo incentivos da família em relação a minha escolha.
    Quiz comentar isto, pois mesmo com essa escolha pessoal, tenho afeto e sinto emoções de alegria, ternura, encantamento vendo uma foto de um bebê, como citado no inicio do texto.
    Parabéns pelas exposições de idéias.

    Amanda Candiotto de Bona Portão
    (Pós Graduação Içara - Turma 11)

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Oi Professor Doutor Rodrigo,
    este texto nos faz refletir sobre vínculos emocionais, e destaca a importância de certos comportamentos fundamentais que têm haver com fenômenos biológicos, e que já outros comportamentos apresentam menor deteerminação biológica. Interessante. Sempre é bom lembrar que o meio também é um fator determinante nas mudanças e comportamentos. Gostei muito de suas aulas com temas muitos polêmicos. Continues assim... polêmico e verdadeiro! Sucesso! Suzana Martinhago - Pós Içara - Turma 11

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  10. Olá Professor,

    Como já escrevi em meu primeiro comentário, este texto possui um conteúdo que faz refletir sobre a condição humana de aprendizagem. O que significa dizer que geneticamente já somos preparados para aprender, ou seja, receber informações e transformá-la em conhecimento, cabe a nós como receptores das informações elaborar os conhecimentos que nos sejam mais convenientes e moldá-los de acordo com as situações ocorrentes em nossa vida.

    Abraço.


    Gabriela Niero.
    (Pós Graduação Içara - turma 11)

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  11. O texto nos faz refletir sobre nossa existência, sobre as verdadeiras condições de vida.

    Gostei muito do conteúdo,você é uma pessoa muito sabia. Gostamos muito das suas aulas.
    Turma 11 pós-graduação Içara.
    Jackiani Casagrande

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  12. Ótimo conteudo,

    uma boa leitura sobre um tema tão importante!

    Nos faz refletir sobre todos os laços fraternos.

    Continue escrevendo coisas interessantes e com esse conteúdo imenso, passarei a acessar sempre esse blog, muito bom.
    Pós-graduação, Içara, Turma 11
    JANICE MARTIGNAGO.

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  13. Olá Professor Dr. Rodrigo,

    Tema muito interessante, pois, nos mostra que nascemos predispostos a esse comportamento. Sendo que, nos leva a refletir a importância do nosso papel enquanto pais e professores mediador do processo de ensino e aprendizagem.
    Pena que foram poucas aulas, mas foram maravilhosas. Obrigada por dividir um pouquinho do seu conhecimento e instigar a vontade de aprender mais sobre a sua área.


    Sucesso!


    Suelen Sumariva Mendes
    (Pós Graduação Içara - turma 11)

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  14. Olá Professor Rodrigo,
    Gostei muito dos temas abordados por você tanto na aula quento no blog,pena que o tempo é pouco, acredito que os assuntos vão ajudar a compreender os nossos alunos,até porque costumamos confundir o que é herdado e o adquirido ao longo de nossas vidas.
    O que determina a sobrevivência de um individuo é herdado, pois estas habilidades lhe garantirá a sobrevivência. Adquirido são influenciados pelo meio, influenciados pelos aspectos culturais. Acredito que seja isso né?
    Um grande abraço e sucesso

    Filipe da Silva
    (Pós Graduação Içara)
    05/09/2012

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