Em
seu livro “A origem das espécies” de 1858, Darwin enfatiza a importância da
luta pela sobrevivência e perpetuação como os caracteres principais que
constituem a vida, todos os organismos vivos estão constantemente empenhados em
sobreviver e deixar maior número de cópias possíveis de seus genes nas futuras
gerações. Seres humanos, enquanto contínuo deste processo, não estão excluídos
deste objetivo último da vida.
Filósofos de todos os tempos
destacaram este equilíbrio enquanto aspecto constituinte da vida: Aristóteles
nos coloca em suas análises sobre ética que a busca pelo bem-estar e a
felicidade constituem ações morais. Descartes teve inspiração nas fontes de
água de Paris para explicar esta busca pelo equilíbrio num modelo denominado
hidráulico. Descartes, na sua maneira “mecanicista” de explicar o mundo,
acreditava que os organismos humanos funcionavam de maneira semelhante ao
utilizado nas fontes e buscou subsídios na anatomia. Ele supôs que a glândula
pineal (que controla os ritmos diários do corpo e o ciclo sono-vigília), por
ficar próxima aos ventrículos preenchidos pelo líquido cérebro espinhal (causa
da hidrocefalia), bombeava este líquido ativando nervos, músculos e ossos, de
maneira que o indivíduo, estimulado pela visão da comida e estando motivado
para comer se dirigiria tal qual um autômato para a fonte de comida. O sistema
visual via nervo óptico, seria o mecanismo eliciador da resposta dada pela
pineal e o filósofo chegou a construir um “robô” a partir deste modelo. No
entanto, seu modelo mecânico não pressupunha um meio termo, e os organismos
deveriam chegar ao extremo da falta de nutrientes no corpo para estarem
motivados a beber ou comer. Dificilmente alguém conseguiria sobreviver se
resolvesse buscar alimento apenas quando sua fome estivesse no limite.
Walter Cannon, em 1929, cunhou o
termo homeostasia para definir esta
busca por estados equilibrados do organismo. A homeostasia para Cannon é definida
como uma oscilação entre dois extremos o mais próximo possível de um ótimo
idealizado, é um sistema de regulação de todos os processos vivos.
Homeostasia: uma tendência de os estados
fisiológicos do organismo manterem o equilíbrio.
FIGURA
1.1 - Esquema representativo da homeostasia quando esta é perturbada por algum
estímulo, como exemplificado no texto, que pode ser a temperatura corporal.
FONTE:
TORTORA, G. J. & GRABOWSKI, S. R. Princípios
de anatomia e fisiologia. 9ª. Edição. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan,
2002. p.7.
António Damásio analisando a
natureza das emoções e sentimentos no livro “Em busca de Espinosa: prazer e dor
na ciência dos sentimentos” (2004) faz uma análise da vida e obra do filósofo
do século XVII Benedictus Espinosa a partir da perspectiva da neurociência e da
biologia moderna, ele coloca que “a tentativa contínua de conseguir um estado
de vida equilibrado é um aspecto profundo e definidor da nossa existência”
(p.43). A palavra equilibrada aqui merece destaque, pois todos os organismos
vivos buscam o equilíbrio para manter suas estruturas e funcionamento e
sobreviver.
Nas palavras de Espinosa citadas por
Damásio (apud 2004, p.44) “cada coisa na medida do seu poder, esforça-se por
perseverar no seu ser e o esforço pelo qual cada coisa tende a perseverar no
seu ser nada mais é o do que a essência desta coisa”. As emoções, neste
sentido, nada mais são do que ajustes que o organismo promove para manter a
coesão das suas estruturas e funções. O aluno irrequieto, que chama a atenção
dos colegas e do professor com comportamentos inadequados para a aula pode
estar com problemas de relacionamento em casa. Sempre lembro dos alunos
hiperativos nestes casos, como uma área do cerebelo responsável pela postura
corporal e pela regulação da motivação denominada vermis é reduzida na maioria
dos casos (Castellanos et.al., 2001),
o aluno fica se movendo constantemente na cadeira; senta, levanta, senta, deita
por vezes, pois seu cérebro manda comandos para o corpo ajustar a postura o
tempo todo mesmo que esteja na posição adequada, uma dissonância entre o que o
corpo vive e aquilo que o cérebro acusa que o corpo vive.
As emoções constituem exemplos
interessantes de como regulam os processos homeostáticos. Geralmente, eventos
que provocam emoções positivas levam a um turbilhão de pensamentos que passam
rapidamente em nossas mentes, sem nos determos em um particular. Por outro
lado, pensamentos eliciados por emoções negativas são “ruminados” por longos
períodos e nos detemos demoradamente neles. Qual o valor adaptativo desta
diferença? Emoções positivas como
felicidade, gratidão e bem estar são importantes em nossas vidas, mas os
estímulos que eliciam tais emoções não diminuem nossa expectativa de vida ou
saúde, então não há necessidade de se deter em solucionar problemas imediatos.
Emoções negativas como nojo, tristeza, raiva, medos e culpas estão
imediatamente relacionados com a diminuição do nosso sucesso, e, portanto, os
pensamentos relacionados a estas emoções devem ser processados em nossas mentes
de forma contínua, até termos certeza de que a ameaça passou ou o problema foi
superado (Damásio, 2004). Sentimos nojo por coisas que possam nos causar
doenças como as fezes, que podem conter parasitas perigosos; o medo pode fazer
com que sejamos mais cautelosos com relação a situações de perigo; a gratidão
pode fazer com que eu atue de forma altruísta com relação a alguém que num
momento de necessidade me estendeu a mão ou que poderá me auxiliar em carências
futuras. É de se esperar e avaliar, portanto, o conjunto de emoções e situações
em que o aluno está inserido de forma a compreender na sua totalidade as
respostas comportamentais oferecidas nos ambientes de aprendizagem, bem como
sua história de vida.
Isso reflete um outro problema do
ambiente educacional: a descontinuidade e carência de informações do histórico
escolar do aluno. O aluno que entra na creche deveria receber uma caderneta de
relatos de professores, coordenadores pedagógicos e pais sobre alterações no
peso, crescimento, o desenvolvimento psicomotor e da linguagem, eventos de
agressões, bem como amostras de trabalhos escolares, de maneira semelhante às
cadernetas de saúde e vacinação oferecidas pelas secretarias de saúde. Muito do
que é diagnosticado por médicos, psicólogos e psicopedagogos poderia ter outra
interpretação com base no histórico do aluno. Um exemplo é o alarmante número
de casos de hiperatividade, muitas vezes erroneamente diagnosticados. O que é
um comportamento impulsivo ou eventos de depressão circunstancial ocasionado
pela separação dos pais ou pela perda de um ente querido poderia ser resolvido
de maneira alternativa àquela proposta pela administração de fármacos. Este
relatório poderia acompanhar o aluno ao longo da sua vida auxiliando no
diagnóstico precoce correto e no tratamento adequado de transtornos,
principalmente na adolescência, momento crítico de alterações no sistema
nervoso, bem diferente daquele histórico escolar contendo apenas as médias
anuais do aluno em determinadas disciplinas ou seu desempenho em algumas
habilidades e tarefas.
Bibliografia:
CASTELLANOS, F.
Xavier; GIEDD, Jay N.; BERQUIN, Patrick C.; WALTER, James M.; SHARP, Wendy; TRAN,
Thanhlan; VAITUZIS, A. Catherine; BLUMENTHAL, Jonathan D.; NELSON, Jean; BASTAIN,
Theresa M.; ZIJDENBOS, Alex; EVANS, Alan C.; RAPPOPORT, Judith L. Quantitative Brain Magnetic Resonance Imaging in Girls With
Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder. Arch Gen Psychiatr 58:289-295, 2001.
DAMÁSIO, António. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. São
Paulo: Companhia das Letras, 2004.
FINGER, Stanley . Origins of Neuroscience: a History of
explorations into Brain Function. New York ,
Oxford University Press, 1994.
HIPOCRATES. Aforismos. São Paulo : Martin Claret, 2003.
TORTORA,
G. J. & GRABOWSKI, S. R. Princípios
de anatomia e fisiologia. 9ª. Edição. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan,
2002.
CONVITE
ResponderExcluirPassei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com